Não penso mais sobre você.
Ou pelo menos tenho momentos
agradáveis em que minha mente flutua enquanto ouve uma música lenta e poética e
flutua para longe de você e de todas as possibilidades que um dia você
representou.
Surpreendentemente, flutua
para mim. Para todas as possibilidades que eu ainda represento. Todas as
esperanças que ainda são criadas. E esperanças essas que eu ainda posso
alimentar.
Não posso ter esperança com
você.
Com um súbito movimento ou na
verdade, falta dele, me coloquei em um lugar exposto e me vi em cores que achei
que nunca mais enxergaria sobre a minha pele.
Cores que não caem bem em mim,
mas que estavam aos poucos, me manchando.
Agora não mais.
Ou pelo menos estou começando
a me limpar das suas cores e da sua mancha. Sei que ainda gosto do seu tom, isso
é verdade. Gosto do calor dele e da forma que fez eu me sentir, naquela noite
específica, isso é um fato. Gosto de o enxergar em você e gosto de sentir de
perto, ainda gosto, admito. Mas não o quero para mim, pois não me serve. Não
combina, não estou em harmonia com ele a minha volta.
Não posso me possuir de uma
paleta de cores invasivas que não combinam com o quadro que eu pintei sobre
minha personalidade por tantos anos. É uma aventura de verdade enxergar isso de
perto, mas uma aventura que para por aqui.
Com seu sútil silêncio e com o
que poderia ser minha alta insistência, mas não será.
Não foi assim que meu eu de
anos atrás, machucada, perdida e enojada, imaginou o meu eu agora. Não sou nem
de perto o que era antes, mas ainda assim, não aprecio a possibilidade de me
tornar necessitada novamente.
Gosto do seu tom, é verdade,
mas não gosto dele sobre mim. Não gosto como pode afetar minha visão, meu gosto
e meu comportamento.
Gosto do seu tom sobre você.
Gosto do seu tom na madrugada.
Gosto do seu tom no meu
pensamento.
Gosto do seu tom na minha
imaginação.
Gosto dele.
Mas não gosto quando se
mistura com o meu.
Meu tom é muito singular, frio
como um azul escuro do mar. Tão frio como o azul escuro do mar que se você
olhar bem de perto é transparente. É vazio e salgado, sou eu por completa, uma
imensidão que intimida, a mim mesma e a outros, mas ainda assim uma imensidão
indomável.
Gosto desse meu tom de azul,
por cima de uma imaginação que arde vermelho como o fogo que você um dia desejou
encostar, mas que por algum motivo morreu em silêncio e me fez parar de pensar
em você.
Ou pelo menos me fez refletir
que eu devo mesmo pensar em mim.
Nas minhas cores, no meu
quadro, nos meus tons frios. No que eu componho agora e no que vou compor
depois. Em todas as possibilidades reais que só dependem de mim.
Porque gosto das suas cores, é
verdade, mas não gosto da expectativa de ter um quadro bonito só se você quiser
me emprestar sua paleta colorida.
Posso até gostar de você e do
quadro que eu imaginei na minha cabeça inspirado por ti, mas gosto mais de mim.
Gosto mais da pintura que eu sei que posso fazer, porque sempre vai depender
apenas dos meus tons.
A real é que eu sempre gostei
de só precisar da minha paleta, mesmo quando ela só tem azul e cinza, porque
sei que ainda posso ser bela com minhas cores frias.
Antes cores frias que são só
minhas, do que a emergência de esperar você me doar a hora que bem te entender,
suas cores quentes, onde não sei o que posso me tornar, mas tenho a certeza de
que todo o processo de criação vai me fazer me sentir uma bagunça incompreendida.
Gosto dos seu tom, é verdade,
mas ainda aprecio mais a minha arte. A que me dá certeza, que eu vejo com
clareza, que não me coloca medo.
E assim, eu não penso mais
sobre você.
Pelo menos nos momentos descontraídos,
quando flutuo para longe ouvindo uma música lenta e poética, imaginando algo
sobre um futuro próximo, não é você no meu pensamento.
Sou eu.
E apesar das manchas que me
causou com suas cores lindas, isso me basta.
Porque eu ainda sou a minha
cor favorita.
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